Is 56,6-7
Sl 66
Rm 11,13-15.29-32
Mt 15,21-28
A liturgia da Palavra deste Domingo fala-nos de atitudes do coração de Deus e revela algumas atitudes do nosso coração.
Primeiro, as atitudes do coração de Deus: largueza, misericórdia, providência, fidelidade. Vejamos. O Senhor escolheu Israel para ser o seu povo. Se fôssemos resumir as palavras da Escritura que exprimem isso, poderíamos dizer assim: “Dentre todos os povos da terra, eu te escolhi. Eu serei o teu Deus e tu serás o meu povo, minha propriedade exclusiva!” Eis: Israel foi escolhido gratuitamente pelo Senhor para ser sua herança, sua propriedade exclusiva. Deus amou apaixonadamente Israel! Ora, essa escolha poderia nos fazer pensar numa estreiteza do coração do Senhor, um Deus que escolhe um povo abandonando os demais à própria sorte. Mas, não é verdade! Primeiramente, várias vezes os profetas falam nos desígnios de Deus para os outros povos: o Senhor tem os olhos sobre toda a terra e nada escapa do seu cuidado e do seu carinho, mesmo que ele se tenha revelado somente a Israel. E, mais ainda: a própria escolha de Israel não é somente para o benefício do próprio Israel. Nada disso! Deus escolheu o povo de Israel em vista dos outros povos. Escutemos o que o Senhor afirmou na primeira leitura de hoje: “Aos estrangeiros que aderem ao Senhor, a esses conduzirei ao meu santo monte e os alegrarei em minha casa de oração… Minha casa será chamada casa de oração para todos os povos”. A vocação de Israel é como a da cada um de nós: um dom e um serviço; um dom que Deus nos faz livremente, mas para o bem de outros! Foi assim com o povo de Israel: no meio das nações deveria ser um povo sacerdotal, um povo para servir e amar a Deus em nome dos outros povos, até que desse, como fruto maduro, o Messias, Salvador de todos os povos! Nunca esqueçamos isso: desde o início, o desejo de Deus é que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade!
Em Jesus, nosso Senhor, esse desígnio aparece claramente: Deus voltou-se para os pagãos abertamente; eles, que eram não-povo, pela fé em Jesus e aceitação do Batismo, são tornados povo de Deus. Somos nós, caríssimos; é a nossa graça! É verdade que Jesus, durante o seu ministério neste mundo, não se dirigiu aos pagãos: ele prega somente em Israel (quando sai da Terra Santa é para descansar ou ensinar aos seus em particular) e diz claramente que não foi enviado a não ser para as ovelhas perdidas da casa de Israel. Depois da ressurreição, sim: ele espera os seus na Galiléia, região considerada misturada com os pagãos e envia seus discípulos pelo mundo inteiro: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura!” Repito: é a nossa graça, é a nossa vez, é o sonho carinhoso do coração largo e generoso de Deus que nos é manifestado!
Mas, como seria errado pensar que Deus, no Antigo Testamento, desprezou e esqueceu os outros povos, é também errado pensar que Deus agora desprezou Israel! Nada disso! Mesmo que o povo d a Antiga Aliança não tenha acolhido Jesus e o tenha entregado aos romanos para crucificarem-no, Deus continua amando Israel; seus dons são sem volta, sua escolha é sem arrependimento. São Paulo diz claramente que “os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis!”
Os cristãos não têm o direito de desprezar Israel! Os primeiros cristãos foram judeus, os apóstolos também; a Virgem Maria era filha do povo de Israel. Nós não compreenderemos nunca porque o povo santo não acolheu o Messias que tanto tinha pedido e esperado! O próprio São Paulo, na segunda leitura de hoje, diz que, pregando aos pagãos, esperava despertar o ciúme de Israel para fazê-lo crer em Jesus. Diz também que foi graças a desobediência de Israel que os discípulos pregaram para os pagãos, fazendo-nos tornar obedientes ao Senhor. Vejam, meus irmãos, todos pecamos – Israel e pagãos -, todos fomos agraciados, todos somos devedores a Deus, todos somos salvos por pura misericórdia do Senhor! O que temos, que não tenhamos recebido! Eis os sentimentos do nosso Deus, eis o seu plano, eis o seu amor largo e misericordioso para com todos nós!
Mas, a Palavra de Deus também nos revela hoje algumas atitudes do nosso coração para com Deus. Recordem o Evangelho! Jesus estava descansando na região de Tiro e Sidônia, no atual Líbano. Está fora da Terra Santa, entre os pagãos. Não foi lá pregar, não queria ser reconhecido… Uma mulher Cananéia descobre quem ele é e implora a cura de sua filha. Insiste, lamente, teima, perturba. Jesus testa a sua fé, dando-lhe uma resposta duríssima, humilhante mesmo: Não fica bem tirar o pão dos filhos para jogá-lo aos cachorrinhos!” Em outras palavras: nÃo fica bem eu pegar os milagres que vim fazer para os judeus, filhos de Deus pela Lei e dá-lo a vocês, cães pagãos! O que eu faria com uma resposta dessas? O que você faria? Somos tão cheios de sensibilidades e direitos diante de Deus… tão cheios de exigências e melindres… Mas, essa pagã é melhor que nós, que eu, que vocês. Humildemente, ela responde: “É verdade, meu Senhor! Vocês judeus são os filhos; nós somos apenas cachorros que não têm direito ao pão! Mas, recorda, meu Senhor: os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos!” É impressionante! Jesus foi vencido totalmente, Jesus foi desarmado! “Mulher, grande é a tua fé! Seja feito como tu queres!” Eis, aqui, irmãos, uma mulher pagã que venceu o Senhor pela persistência, pela paciência, pela humildade! Não deveríamos nós ser assim também? Não deveriam ser esses os nossos sentimentos para com o Senhor? Não deveria ser assim a nossa oração de súplica: persistente, paciente e humilde?
Pensemos bem e voltemos para casa com essas lições que revelam o coração de Deus e nmos falam dos sentimentos do nosso coração! Amém.
Retirado do Site Presbíteros