Continuamos a escutar o Senhor que, sentado na barca, nos fala do Reino dos Céus… Permanecemos atentos, como aquela multidão em pé, à beira-mar, embevecida: “Nunca nenhum homem falou assim…”
Hoje, o Senhor nos apresenta três parábolas: a do trigo e do joio semeados no campo do mundo e do nosso coração, a do grão de mostarda que cresce a abriga as aves dos céus e, finalmente, a do tiquinho de fermento que leveda toda a massa… É assim o Reino dos Céus!
As três parábolas mostram a fraqueza do Reino, sua fragilidade escandalosa, mas também sua força invencível, seu poder, sua capacidade de tudo impregnar e transformar, até chegar à vitória final. Só que para compreender isso – os mistérios do Reino -, é necessário ter a paciência, a sabedoria que nos dá a capacidade de acolher os tempos e modos de Deus! Mas, vamos às parábolas.
Primeiro, a do trigo e do joio. Que nos ensina aqui o Senhor? Que lições nos quer dar? Em primeiro lugar: Deus não é inativo, indiferente ao mundo, à nossa vida de cada dia. No seu Filho, semeou o trigo do Reino no campo deste mundo e no campo do nosso coração. Como diz o Livro da Sabedoria, na primeira leitura de hoje: “Não há, além de ti, outro Deus que cuide de todas as coisas!” Sim: nosso Deus é um Deus presente, um Deus atuante, um Deus que cuida de nós com amor e com amor vela por suas criaturas! Não duvidemos, não percamos de vista esta realidade: num mundo de cimento armado e homens bombas, fome, mortes e mensalões, Deus está presente, Deus cuida de nós! Uma segunda lição desta parábola: no mundo e no coração de cada um de nós infelizmente há o mal, o pecado, a treva. Por favor, não mascaremos o mal do mundo nem o mal do nosso interior! É preciso desmascará-lo, é preciso chamá-lo pelo nome! Não mascare, irmão, irmã, o mal da sua vida, do seu coração, da sua consciência! Esse mal não vem de Deus; vem do Antigo Inimigo, do Diabo que, mais esperto que nós, tantas vezes faz o mal nos parecer bem e até achar que nós mesmos estamos acima do bem e do mal! O Diabo é assim: semeia o mal e faz com que ele se confunda com o bem, como o trigo e o joio. E nós, tolos, confundimos tudo e pensamos ser bem ao que é mal – mal semeado pelo Maligno! Por favor, olhe o seu coração: não se engane, não finja, não mascare, não minta pra você mesmo! Chame o mal de mal e o bem de bem! Numa terceira lição, a parábola de Jesus nos ensina a paciência, sobretudo com o mal que vemos no mundo e nos outros! Somos impacientes, caríssimos, e até julgamos Deus e o seu modo de agir no mundo. O querido Bento XVI, na sua homilia de início de pontificado, falava da paciência de Deus que salva e da impaciência nossa que coloca a perder… Jesus nos pede que confiemos em Deus, que acreditemos na sua ação e nos seus desígnios, tempos e modos: Não há, além de ti, outro Deus que cuide de todas as coisas e a quem devas mostrar que teu julgamento não foi injusto. A tua força é princípio da tua justiça e o teu domínio sobre todos te faz para com todos indulgente. Dominando tua própria força, julgas com clemência e nos governas com grande moderação; e a teus filhos deste a confortadora esperança de que concedes o perdão aos pecadores”.
Escutemos ainda um pouco o Senhor; aprendamos com as parábolas do grão de mostarda e do fermento que leveda a massa. Precisamente porque o modo de pensar e agir de Deus não é como o nosso, o Reino dos Céus aparece tão frágil, tão inseguro, tão precário… pequenino como um grão de mostarda, pouquinho como uma pitada de fermento! E, no entanto, será grande, será forte, será vitorioso e abrigará as aves dos céus! Será eficaz, forte, e penetrará toda a massa deste mundo! Mas, quando, Senhor? Por que demoras? Por que parece que estás longe? Por que pareces dormir? Observem, irmãos, que em todas as parábolas do Reino, Jesus deixa claro que, ao fim, haverá um julgamento de cada um de nós e o Reino triunfará!
Mas, para não descrer, para não desesperar, para não ver e sentir simplesmente na nossa medida e com nossas forças, supliquemos que o Espírito do Ressuscitado venha nos socorrer, “pois não sabemos o que pedir, nem como pedir!” Só o Espírito do Cristo, o Semeador do Reino, pode nos fazer perceber os sinais do Reino, os sinais de Deus no mundo e na vida. Só o Espírito nos sustenta, fazendo-nos caminhar sem desfalecer, de esperança em esperança… Só o Espírito nos ensina as coisas do Reino: ele torna o Reino presente porque torna Jesus presente. Por isso mesmo, em vários antigos manuscritos do Evangelho de São Lucas, na oração do Pai-nosso, onde tem “Venha o teu Reino” aparece “Venha o teu Espírito”! É o Espírito de Cristo que torna o Reino presente em nós e no mundo. Deixemo-nos, portanto, guiar por ele, pois “o Reino de Deus é paz e alegria no Espírito Santo!”
Eis, caríssimos! Aprendamos do Senhor, vigiemos e acolhamos sua palavra. Se formos fiéis e perseverarmos até o fim, escutaremos cheios de esperança sua promessa, que encerra o Evangelho de hoje: “… então, os justos brilharão como o sol no Reino do seu Pai!” Que assim seja! Amém!