3º domingo do Tempo Comum

Depois de apresentar Jesus como Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, na celebração do último Domingo, a Liturgia celebra, que Jesus é a luz divina brilhando entre nós e para nós. Ele é proclamado no Evangelho deste Domingo como a realização da promessa divina, como a luz esplendente que brilha em todas as partes do mundo, simbolizada nas terras de Zabulon e Neftali (1ª leitura). O contexto da profecia, no entanto, é mais amplo com início em Is 7, quando Isaías inicia estes capítulos apresentando a Virgem grávida como sinal da presença divina entre nós. Profecia que anuncia a esperança de novos tempos, anuncia uma nova luz, anuncia um novo caminho que liberta de todo tipo de escravidão (1ª leitura). O salmista deste Domingo incentiva à acolher a profecia e transformá-la em vida: “espera no Senhor e tem coragem” (salmo responsorial). Ou seja, confie com coragem.

A realização da profecia de Isaías acontece para as cidades de Zabulon, Neftali e para quem se dispõe a entrar no Reino de Deus (Evangelho). Na visão de Mateus, o Reino é a presença visível de Deus no mundo. Presença que acontece na pessoa de Jesus, nos gestos e nas palavras de Jesus. Por isso, o convite à conversão feito por Jesus significa abandonar uma mentalidade e se deixar iluminar pela mentalidade do Evangelho, com a coragem de colocar a confiança da vida pessoal em Jesus Cristo. É compreendendo a conversão como atitude de colocar a confiança da vida pessoal em Jesus, que se tem o alcance e o significado do chamado e do seguimento dos primeiros discípulos (Evangelho)e dos discípulos e discípulas de todos os tempos.

Tanto João como Jesus iniciam suas pregações conclamando o povo à conversão. A diferença entre um e outro está no sinal visível da conversão: para João era o Batismo de penitência e, para Jesus, é o seguimento no discipulado (Evangelho). O chamado dos primeiros discípulos esclarece que se converter é confiar no Senhor. O exemplo de confiança é evidente nos primeiros discípulos que deixam as redes para seguir Jesus. Pedro e André consertavam as redes, instrumentos nos quais confiavam porque delas tiravam o sustento de suas famílias. Pois bem, abandonam as redes, abandonam essa confiança, e se colocam no seguimento de Jesus; se convertem a Jesus (Evangelho). Jesus promete que seriam pescadores de homens (Evangelho). Uma promessa arriscada; Pedro, André, Tiago e João tinham mais segurança lidando com os perigos do mar do que com os perigos imprevisíveis dos relacionamentos humanos. Era mais fácil pescar peixes que homens e mulheres para o projeto do Reino. Quando, depois de três anos, Jesus morre na Cruz, Pedro volta decepcionado ao mesmo local do chamado e se dispõe a pescar — “eu vou pescar” (Jo 21,3)—; retorna à sua antiga segurança. Jesus também ali retorna e insiste que não se pode desanimar no chamado, porque é preciso pescar diferente, lançando a rede em outras margens (Jo 21,6). O chamado era para toda vida e por toda vida seriam pescadores de homens; não voltariam mais para suas praias, suas antigas seguranças. A conversão é uma atitude confiante que se confirma com a vida: “o Senhor é a proteção de minha vida, o Senhor é minha luz e salvação, a quem temerei? (salmo responsorial).

ILUMINADOS PELA VIDA

O projeto da conversão, concretizado pelo discipulado, tem outro aspecto na Liturgia deste Domingo, proposto na 2ª leitura, que é útil recordar: a importância da comunidade como testemunha da unidade em Jesus Cristo. Assim foi para os tempos da comunidade de Corinto e assim é para cada uma das nossas comunidades. Paulo confronta-se com um problema de divisão interna, em Corinto, com grupos partidários de acordo com a simpatia dos pregadores. Parece que hoje isso acontece nas comunidades por outros motivos e, até mesmo, por influência da mídia católica e evangélica que nem sempre produzem comunhão. No nosso tempo, não se sabe bem se são seguidores de determinado pregador ou se são fãs de algum cantor gospel.

Na comunidade, a unidade é fruto de um processo de conversão. Isso está claro no Evangelho deste Domingo. Comunidades que fundamentam suas atividades, pastorais, movimentos, catequese e, até mesmo, suas estruturas organizacionais — secretaria, departamento financeiro, quadro de funcionários — na Palavra de Deus e na mística cristã, tendem naturalmente a unirem suas forças, e o resultado é a unidade. Ao contrário, comunidades que mantém uma estrutura, por melhor que seja, por mais organizada que for, sem estarem fundamentadas no processo de conversão iluminado pela luz do Evangelho, cedem a tentação de atitudes competitivas que resultam em divisão. A mística cristã do Reino não pode ser transformada em teoria ou adereço de motivações pastorais ou organizacionais; deve estar presente em todas as atividades da comunidade inclusive, repito, naquelas funcionais e burocráticas. Ou seja, todas as atividades da comunidade eclesial devem ser convite e incentivo à conversão ao discipulado. Todas as atividades, em síntese, são evangelizadoras.

O perigo de se ter comunidades prestadoras de serviço, com pastorais impecavelmente organizadas, mas sem a mística do Reino, é grande. Isso acontece quando se copia estratégias organizacionais de marketing e de empresas. Adota-se a mística capitalista e não a mística cristã; motivo de conversão. Organizar e manter estruturas em moldes empresariais pode trazer rendimentos financeiros, mas não é caminho evangelizador. As atividades da Igreja, especialmente nas comunidades, ultrapassam a avaliação qualitativa da eficiência de resultados burocráticos ou financeiros, pois precisam ser avaliadas pela eficiência evangelizadora capaz de convocar um processo de conversão na comunidade, em vista do discipulado. Qualquer atividade comunitária deveria ser encontro com o Evangelho e anúncio do Reino de Deus. Quando isso é traduzido e confirmado pela unidade de todas as atividades comunitárias, mais eficaz será a evangelização.

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